Reflexões sobre Cooperação e Egoísmo na Fábula “O Cavalo e o Burro” de Monteiro Lobato
A fábula de Monteiro Lobato, “O Cavalo e o Burro“, conta uma história sobre cooperação e egoísmo, utilizando animais como metáforas para questões humanas profundas. Nesta narrativa simples, mas significativa, Lobato nos convida a refletir sobre empatia e responsabilidade.
Na história, o cavalo e o burro são companheiros de viagem em direção à cidade. O cavalo, com uma carga leve, observa o burro lutando sob o peso excessivo. Quando o burro sugere dividir a carga igualmente para aliviar seu fardo, o cavalo egoísta rejeita a proposta com desdém. Sua atitude revela uma falta de consideração pelo bem-estar do burro, priorizando seu próprio conforto.
A tragédia ocorre quando o burro, exausto e sobrecarregado, tropeça e morre. Os tropeiros, confrontados com a situação, transferem a carga do burro para o cavalo, que agora deve suportar todo o peso. Esta reviravolta irônica destaca as consequências inevitáveis do egoísmo e da falta de cooperação.
Além disso, a intervenção do papagaio no final da fábula oferece uma perspectiva adicional. Ao comentar sobre a tolice do cavalo em não compreender a intenção e pedido de ajuda do burro, o papagaio enfatiza a importância de considerar o bem-estar dos outros e as consequências de nossas ações.
Veja abaixo a fábula na integra:
O Cavalo e o Burro de Monteiro Lobato
O Cavalo e burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo, contente da vida, folgando com a carga de quatro arrobas, e o burro, coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:
— Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmanamente, seis arrobas para cada um.
O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.
— Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?
O burro gemeu:
— Egoísta! Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga das quatro arrobas mais a minha.
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
Chegam os tropeiros, maldizem da sorte e sem demora arrumam as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
— Bem feito! – exclamou um papagaio. Quem o mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro motivo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora…”.
(Monteiro Lobato, Fábulas. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994)