Narcisismo é o interesse excessivo ou a admiração por si mesmo e pela própria aparência física. Não há nada de errado em se olhar no espelho e ficar feliz ou orgulhoso com o que se vê, mas ser um narcisista certamente não é ideal.
Origem do Termo: o termo “narcisismo” vem de Narciso, uma figura relativamente menor da mitologia grega. Curiosamente, “Narciso” também é o nome de um tipo específico de flor, o narciso. Não se sabe se a flor foi nomeada em homenagem ao mito ou vice-versa, mas há uma conexão, já que a mãe de Narciso também compartilha o nome com uma flor.
Narciso
A Origem Mitológica de Narciso nos diz que ele era um jovem caçador de Téspias, localizada aos pés do Monte Helicão, situada na Beócia, ao Sul de Tebas na Grécia. Filho de um Deus do Rio Céfiso e da Ninfa Liríope, era amplamente celebrado por sua beleza. É descrito em várias obras como um dos jovens mais belos, comparável a Adônis e Ganimedes. Naturalmente, ele tinha muitas pretendentes, ao passear pelos bosques arrancava suspiros das Ninfas e de qualquer outro nos arredores. No entanto, Narciso não era capaz de amar ninguém além de si mesmo, acreditava que ninguém poderia igualar sua beleza e por isso nunca correspondeu ao amor de ninguém.
Esta atitude de rejeitar pretendentes aos montes, levou muitos a se sentirem desprezados e a orarem aos deuses para castigá-lo.
Tudo isso já havia sido previsto por Tirésias, o vidente de Tebas, quando Liríope, tomada pela inquietação maternal, o procurou em busca de respostas para o destino de seu filho Narciso, cuja beleza era incomparável. Ela, angustiada, suplicou ao profeta que revelasse se o jovem alcançaria a velhice e se a perfeição de sua forma resistiria ao tempo. Tirésias, então, pronunciou sua enigmática profecia: “Se ele nunca se conhecer, viverá muitos anos sob a luz do sol.”
A principio, as palavras de Tirésias pareceram vagas, quase sem sentido, como um enigma. No entanto, o tempo, com sua maneira peculiar de revelar verdades ocultas, trouxe à tona o desfecho anunciado: o trágico destino de Narciso, consumido pelo amor insano por sua própria imagem, confirmando a visão profética.
Eco e Narciso
A história mais conhecida é a de Eco e Narciso, detalhada no livro três das “Metamorfoses” de Ovídio. Eco, uma ninfa da montanha, só podia repetir as últimas palavras que lhe eram ditas. Originalmente, Eco ajudou Zeus a esconder um de seus casos de sua esposa, Hera. Quando Hera descobriu, puniu Eco lançando uma maldição: Eco seria incapaz de usar a própria voz, exceto para repetir as palavras dos outros.
Um dia, Eco encontrou Narciso na floresta e se apaixonou instantaneamente. Sem coragem de se revelar, ela o seguiu de longe. Quando ele percebeu sua presença e chamou “Quem está aí?”, Eco repetiu suas palavras. Narciso, pensando que era sua própria voz ecoando pela floresta, ignorou-a. Desesperada, Eco finalmente se revelou, mas Narciso a rejeitou brutalmente. Eco, então, passou o resto de sua vida sozinha e de coração partido, até que restou apenas o som de um eco.
Observando o comportamento questionável de Narciso, a deusa Nêmesis decidiu puni-lo. Ela o atraiu para um poço de água, onde Narciso, ao olhar para o reflexo, se apaixonou perdidamente pela própria imagem. Incapaz de deixar o reflexo, Narciso finalmente entendeu o que significava amar alguém que nunca poderia retribuir seu amor. Em desespero, ele tirou a própria vida, e seu sangue formou uma flor branca e dourada. Em outras versões, ele simplesmente morre de sede, temendo mover-se e perder a imagem, ou é condenado a olhar eternamente para seu reflexo.
Ameinias e Narciso
Outro pretendente, o jovem Ameinias, foi cruelmente rejeitado por Narciso, que pediu que o pretendente se retirasse a própria vida. Em um gesto de desespero e agonia, Ameinias tirou a própria vida diante do amado, invocando a deusa Nêmesis por justiça. A divindade, sensível ao seu clamor, atendeu ao pedido, o belo Narciso, se viu enfeitiçado por sua própria imagem refletida nas águas. Ali, à beira do poço, preso ao fascínio de sua própria beleza, começou a definhar, consumido por uma paixão impossível. Incapaz de desviar o olhar, ele lentamente se esvaiu, até que as ninfas, compadecidas, o transformaram em uma flor de narciso, pálida e delicada.
Em outra versão do mesmo conto, dizem que Narciso, tomado pelo remorso ao compreender a futilidade de seu amor, decidiu acabar com sua própria vida ali mesmo, ao lado de seu reflexo na poça, da mesma forma que Ameinias teria retirado a própria vida. Do sangue espalhado nasceu a flor que leva seu nome, Narciso.
Versões Romanas e Gregas
A versão romana é a mais popular, talvez porque os romanos apreciassem histórias que advertiam contra a vaidade e o egoísmo. Ao contrário, os gregos, supersticiosos quanto ao ato de contemplar reflexos por muito tempo, acreditavam que isso poderia trazer má sorte ou até mesmo a morte.
Na versão romana, há uma abordagem pragmática, se alguém é injustiçado, eventualmente haverá justiça divina. Já a versão grega é mais emocional, centrada em vingança, algo comum na mitologia grega, onde muitos personagens buscam justiça pelas próprias mãos.
Considerações
O Mito de Narciso nos alerta para a fragilidade que existe na obsessão pelo “EU“, mostrando como o amor desmedido pela própria imagem pode levar ao isolamento, ao afastamento dos outros e, em última instância, à autodestruição. Narciso, ao contemplar seu reflexo, se afasta do mundo e mergulha em uma solidão, onde a realidade se distorce ao seu próprio desejo.
A obsessão de Narciso por sua própria imagem reflete um tema mais amplo na mitologia e filosofia grega, o perigo do autoengano e da vaidade excessiva. A água, como espelho, simboliza não apenas a beleza fugaz, mas também o autoengano. Narciso não reconhece que o objeto de seu amor é apenas um reflexo, uma ilusão.
O nome “Narciso” deu origem à palavra “narcisismo“, que descreve uma obsessão por si mesmo e uma admiração excessiva pela própria aparência. A flor narciso (também conhecida como Junquilho), ligada à lenda, teria brotado no local onde Narciso morreu, simbolizando sua auto-obsessão. O mito sugere que a flor foi associada ao seu nome por causa de sua inclinação natural a “curvar-se” para baixo, como se estivesse olhando para o próprio reflexo na água.
A história de Narciso teve um grande impacto cultural, inspirando muitas obras de arte e literatura ao longo dos séculos. Durante o Renascimento, por exemplo, artistas como Caravaggio e poetas como John Keats se inspiraram no mito para explorar temas de beleza, identidade e a natureza do amor. A pintura “Narcissus” de Caravaggio, é uma das representações mais icônicas da famosa história de Narciso, extraída da mitologia grega e reinterpretada através do olhar dramático e intenso do pintor italiano. A obra captura o momento crucial em que Narciso, fascinado por sua própria imagem refletida em um espelho d’água, se perde em um transe de amor e autoadmiração, sem saber que o objeto de seu desejo é ele mesmo.
Outro ponto interessante é que em qualquer versão Narciso é descrito como um belo jovem e fascinante, o que nos indica que provavelmente foi imaginado em fase adolescente.
O convívio com um narcisista é desafiador, pois eles tendem a diminuir os outros e exaltar a si mesmos, podendo ser necessário suporte psicológico para lidar com essas pessoas. A personalidade se desenvolve ao longo do tempo, e o diagnóstico de transtorno narcisista geralmente é feito após os 18 anos, sendo difícil para o narcisista reconhecer seu próprio transtorno.
O transtorno de personalidade narcisista é caracterizado por comportamentos de grandiosidade, falta de empatia e necessidade excessiva de admiração, afetando negativamente a vida social e profissional do indivíduo.
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