⚡ Resumo Rápido

  • Logística Pesada: O Svælget 2 não é um barco de ataque, é um cargueiro robusto que prova a escala massiva do comércio da época.
  • Preservação Anômala: O soterramento rápido em ambiente anóxico preservou itens raríssimos, incluindo cordames originais e uma cozinha a bordo.
  • Cadeia de Suprimentos: Análises de dendrocronologia revelam um "Frankenstein" europeu: construído nos Países Baixos com madeira polonesa.

Uma obra de infraestrutura costeira em Copenhague esbarrou em algo maior do que o planejado. Durante os levantamentos para o projeto Lynetteholm, o sonar detectou uma anomalia no fundo do estreito de Øresund.

Arqueólogos do Viking Ship Museum foram chamados e confirmaram a identidade do naufrágio, o Svælget 2.

Muito mais do que “mais um barco velho”, trata-se do maior cog (kogge) já encontrado no planeta. Ele passou seis séculos enterrado na areia, esperando alguém com a tecnologia certa para encontrá-lo.

Especificações de um caminhão marítimo

Esqueça os barcos vikings esguios feitos para ataques rápidos. O Svælget 2 era uma máquina de logística pesada. As medidas impressionam para o ano de 1410:

  • Comprimento: 28 metros.
  • Largura: 9 metros.
  • Altura: 6 metros.
  • Carga: 300 toneladas.

Esses números mudam a percepção histórica. Eles provam que a economia da Baixa Idade Média não vivia somente através de especiarias leves e itens de luxo. Havia demanda e tecnologia para mover commodities em grande escala.

O navio transportava sal, madeira, tijolos e alimentos básicos. Era o “contêiner” do século XV.

A sorte da física: por que ele não apodreceu

A preservação do Svælget 2 se deve a uma combinação de geologia e acaso, o navio afundou e pousou em uma depressão no leito marinho a 13 metros de profundidade. A areia cobriu a estrutura rapidamente.

Isso criou uma barreira contra correntes fortes e organismos que devoram madeira. O resultado é um lado de estibordo preservado desde a quilha até o topo do costado.

O ambiente anóxico (sem oxigênio) salvou até o que costuma desaparecer primeiro: o cordame. Os arqueólogos recuperaram partes do sistema de cabos e velas. É uma engenharia que raramente sobrevive no registro arqueológico.

A origem da madeira

A análise de dendrocronologia (estudo dos anéis de crescimento das árvores) rastreou a cadeia de suprimentos do estaleiro. O navio é um Frankenstein logístico europeu:

  • Tábuas do casco: Carvalho da Pomerânia (atual Polônia).
  • Estrutura interna: Madeira dos Países Baixos.

A conclusão é óbvia. O navio provavelmente foi construído nos [Países Baixos], utilizando madeira importada do Báltico. As rotas comerciais eram integradas e eficientes muito antes da globalização moderna.

Vida a bordo: cozinha de tijolos e “castelos”

A escavação validou detalhes que historiadores viam apenas em ilustrações duvidosas. O navio possuía um castelo de popa feito de madeira, uma plataforma elevada usada para defesa e comando.

Mais interessante é a infraestrutura da tripulação. Nada de fogueiras improvisadas perigosas. Encontraram uma cozinha de tijolos e telhas (uma “galley”) instalada a bordo. É o exemplar mais antigo desse tipo na Dinamarca.

Junto aos tijolos, surgiram panelas de bronze e tigelas de cerâmica. Havia restos de peixe e carne. A tripulação comia comida quente e tinha uma rotina estruturada. Objetos pessoais como sapatos, pentes e contas de rosário completam o cenário de uma vida dura, mas organizada.

O destino final

O naufrágio foi totalmente escavado. A conta foi paga pela By & Havn, a empresa responsável pela obra do porto, e as peças foram transferidas para conservação no Museu Nacional em Brede.

Para quem gosta de ver o trabalho “sujo”, a emissora dinamarquesa DR documentou o processo na série “Gåden i dybet”. O navio sai da lama, a ciência entra em cena e agora possui mais insumos sobre fatos da época.